
Diálogo com livros para o ensino do teatro
CAROLINE LAZZAROTTO
BOLSISTA INICIE/ 2014

Credenciais
da
autora
Contextualização
Créditos: Imagem retirada do site: http://www.jbactors.com/actingreading/actingteacherbiographies/violaspolin.html
Pensando Teatro e o Ensino
a partir de Spolin
Ao pensarmos mais especificamente o livro para o ensino do teatro, podemos encontrar conceitos operacionais teatrais importantes. Tais como:
-Experiência criativa (p. 3)
-Jogos teatrais (p. 4)
-Espotaneidade (p. 4)
-Aprovação e desaprovação (p. 6)
-Acordo grupal (p.8)
-Relação ator plateia (p.11)
-Fisicalização (ação física) (p. 13)
-Técnicas Teatrais ou jeito de fazer (p. 12)
-Problemas Teatrais (p.17)
-Avaliação (p. 24)
-Instrução (p. 26)
-O Como (p. 31)
-Orientação (p. 43)
-Espaço (p. 73)
-Relacionamento grupal (p. 82)
-Estrutura do jogo teatral:
O Onde (p. 91)
O Quem (p. 98)
O Quê (p. 95)
O Foco (Ponto de Concentração) (p. 20)
-Blablação (p. 110)
-Conciência corporal (p. 132)
-Movimentação de cena (p. 142)
-Ouvir (p. 153)
-Contato físico (p. 165)
-Emoção (p. 215)
-Conflito físico (p. 224)
-Personagem (p. 229)
-Energia (p. 253)
-Ação e ação interior (p. 261)
-Acreditar
-Diretor (p. 285)
-Cena (p. 289)
-Memorização (p. 303)
-Compartilhar com o público
-Criação
-Desprendimento
-Dramaturgia
-Imaginação
-Improvisação
-Interpretação Teatral
-Jogador
-Jogo Dramático
-Memória corporal
-Não-representação
-Visualização
OBS: A maioria das noções desses conceitos encontram-se nas páginas 335 à 349 do presente livro, porém colocamos algumas outras páginas que esses conceitos são trabalhados mais especificadamente, ficando a critério do leitor explorar a obra para melhor compreensão dos mesmos, ou ao professor, vivenciá-los junto a seus alunos.
Resumo da obra
Considerações
da
pesquisadora
Outras obras
De um fragmento a outro fragmento (inspiração a partir da leitura)
COMENTÁRIOS DE COLEGAS
"Sou formada em Teatro: Licenciatura pela Universidade Estadual do Rio Grande do Sul. Conheci melhor os métodos de Viola Spolin dentro da academia e meu maior contato com seus jogos é através do seu livro em formato de fichário. Atualmente sou professora artista na rede do Circo Móvel da Cultura, um projeto em parceria com a secretaria de cultura de Porto Alegre, FASC e Associação Rede do Circo, atendemos sete Centros de referência de assistência social - CRAS. O projeto é bem interdisciplinar, com professores artistas de todas as áreas das artes. Nossas vivências são ministradas sempre em duplas. Eu e minha dupla gostamos muito de utilizar jogos da Spolin em nossas aulas. Um dos exercícios que mais utilizamos é o jogo do espelho, que nos permite trabalhar com as crianças a concentração e percepção corporal. É um ótimo jogo para introduzir a prática teatral. Após utilizamos o método do O QUÊ? ONDE? e QUEM? Esses jogos propiciam uma excelente dinâmica de improvisação.."
Morgana Rodrigues
Viola Spolin. Improvisação para o Teatro. Livro citado 17x
Spolin foi educadora de teatro, diretora e atriz. Reconhecida internacionalmente por seus “Jogos Teatrais” ou “Theater Games”, no nome original. Ela iniciou seus estudos em Chicago em um grupo de trabalho chamado Neva Boyd’s, este estudo era inovador nas áreas de liderança, recreação e trabalho de grupo social e a influenciou fortemente, assim como o uso de estruturas de jogos tradicionais para afetar o comportamento social do centro da cidade e de crianças imigrantes. Ela também tem forte influência de Stanislavski, que levantou interrogações fundamentais sobre o processo de educação no teatro.
Este livro surge nos anos sessenta (1963). Nele Spolin fala abertamente sobre teoria e fundamentação para o ensino de teatro complementando com jogos teatrais (exercícios) para serem aplicados de forma prática. A ideia do livro surge antes de 1945, porém somente depois dessa data Spolin começou a reexperimentar técnicas teatrais com meninos e meninas. Embora o material para a publicação do livro tenha sido reunido há muitos anos - sempre anotava suas experiências - a forma final como aparece para o leitor surge depois de muita observação e experimentação de como a improvisação funciona. Dentro deste contexto o livro não perdeu a perspectiva da procura, revelando uma reflexão comprometida com o processo de criação, bem como, com os movimentos dos espetáculos teatrais da época que lutavam para se tornarem mais independentes e fugirem das regras ditadas pelo show business. A pesquisa com sistemas de jogos teatrais desenvolvidos pela professora Ingrid Koudela e Eduardo Amos traz a tradução do livro para o português no ano 1978.
Essa obra surge da necessidade em divulgar as suas observações e experiências com grupos. Os primeiros grupos de trabalho foram com crianças e adultos de sua vizinhança, usando a estrutura do jogo descrita na obra como base para essas vivências teatrais e para libertar as ações espontâneas do ser humano.
No livro Spolin publica as técnicas para improvisação teatral, incluindo suas vivências durante anos com jogos teatrais em diversos grupos. É dividido em três partes. A primeira trata da teoria e fundamentos para ensinar e dirigir teatro. A segunda traz uma série de exercícios para serem aplicados em diversos grupos. E a terceira consiste de reflexões sobre a criança no teatro e também do papel do diretor no teatro amador.
Começa escrevendo sobre a experiência criativa deixando a ideia de que todos podem e são capazes de atuar no palco. A espontaneidade é um conceito básico de seu trabalho. Define sete aspetos relacionados a ela. Destaco três deles, jogo, plateia e fisicalização. Sobre o jogo Spolin aponta que é uma forma natural de solucionar problemas, propicia o envolvimento e a liberdade pessoal “a energia liberada para resolver o problema, sendo restringida pelas regras do jogo e estabelecida pela decisão grupal, cria uma explosão - ou espontaneidade - e, como é comum nas explosões, tudo é destruído, rearranjado, desbloqueado”(p. 05); a plateia dá significado ao espetáculo, quando se compreende o papel dela o ator adquire liberdade e relaxamento completo “(...) um grupo com o qual ele está compartilhando uma experiência” (p. 11); e fisicalização, é um termo utilizado para designar ao aluno uma abordagem de conceito físico, ela propicia ao aluno uma experiência pessoal, concreta capaz de mostrar a realidade e não apenas contá-la. “A realidade só pode ser física. Nesse meio físico ela é concebida e comunicada através do equipamento sensorial” (p. 14).
Em seu sistema de trabalho Spolin define alguns procedimentos. Destaco cinco por entender que os não citados se tornam, de uma forma ou de outra, explícitos neles:
Solucionar problemas - essa técnica é utilizada com o objetivo de oferecer problemas para solucionar problemas. Não existe modo certo ou errado para fazer isso. Essa técnica elimina a necessidade de o professor intelectualizar o trabalho de um aluno com critérios pessoais.
Ponto de concentração - é o ponto focal, através dele pode-se isolar segmentos de técnicas teatrais complexas. Ele dá controle e disciplina, propicia ao aluno concentração naquilo que é importante ao jogo. Isso ajuda na solução de problemas.
Avaliação - sempre acontece ao final dos jogos com a ideia de promover o não julgamento, do certo e do errado, do bom e do mau, correntes essas que prendem os jogadores. Deve auxiliar o grupo na solução de um problema e esclarecimento do ponto de concentração, deixando-o mais livre para a espontaneidade.
Instrução – é dada inicialmente pelo professor-diretor com o objetivo de agir como guia para a resolução de problemas e dar auto identidade ao aluno-ator no momento do processo do jogo.
Evitar o como - não planejar as soluções dos problemas anteriormente, elas devem acontecer no palco, na hora, no comum acordo entre os jogadores.
Spolin também trabalha com uma estrutura de jogo muito conhecida que é o Onde, o Quem e o O Quê. O Onde é o espaço físico, o Quem é a pessoa física, o O quê é a ação física. Sobre a emoção a autora diz que não devemos usar nossa emoção pessoal ou subjetiva para o palco, diz que a emoção que precisamos só pode surgir na experiência imediata, que é a ativação do nosso eu total; seria a soma de energia e movimento, do aqui e do agora.
As suas propostas estão comprometidas, como ela mesma diz no livro, com uma “experiência viva do teatro” nas quais diferentes grupos, profissionais ou amadores, pedagógicos ou artísticos, podem experenciar o teatro de forma espontânea, improvisando jogos e cenas reencontrando-se com o espetador a cada momento. Acredito que essas razões podem justificar porque este livro é considerado por muitos, artistas e professores, uma espécie de bíblia do teatro. “Experenciar é penetrar no ambiente, é envolver-se total e organicamente com ele. Isto significa envolvimento em todos os níveis: intelectual, físico e intuitivo”(p. 03).
É um livro útil para professores, tanto de teatro como de pedagogia; para instituições de ensino, para comunidades, para ser utilizado nas cadeiras de estágio e práticas metodológicas. Ele oferece um detalhado programa de oficina de trabalho que favorece e esclarece ao oficineiro de forma sistemática as etapas do trabalho. Com a supervisão de um professor conhecedor das técnicas propostas por Spolin, os procedimentos poderão ficar mais claros. A leitura é de fácil compreensão e acesso. Porém me pergunto se alguém que não tem, ou ainda não teve, um pequeno contato com jogos e atividades teatrais conseguiria instruir os jogos com o objetivo que Spolin propõe. Pergunto-me isso com base na educação e contexto brasileiro de escolaridade pública, ou quase sem escolaridade.
O livro é ótimo para o ensino do teatro tanto em escolas de educação básica quando para uso de cursos de teatro (sejam oficinas de adultos ou crianças). Meu fazer teatral foi descoberto com os jogos de Spolin em uma escola particular de teatro em Porto Alegre. Recordo-me da vivência do jogo espelho – assim nomeado pela autora no livro- as descobertas que obtive nesse jogo e que depois na faculdade utilizei com meus alunos de educação básica. Eu, enquanto professora e atriz sinto a presença de Spolin no fazer teatral, logo ela deve ser mais estudada nas disciplinas de estágio e metodologia para ter mais força dentro da escola básica pois seus estudos tem fundamentos. Seus ensinamentos tem um pensamento comprometido com a espontaneidade e o não julgamento, hoje fatores importantes para serem trabalhados dentro da escola pública brasileira. É relevante dizer que Spolin trata em seu livro de conceitos importantes para o conhecimento teatral, o foco é um deles, porém utiliza o termo ponto de concentração ou POC para defini-lo.
Distribuído ao longo de 349 páginas é uma referência de cunho atual e muito utilizada pelas universidades brasileiras para o ensino do teatro, embora sua primeira edição seja datada no ano de 1963. É a obra mais citada nas disciplinas pedagógicas teatrais das universidades consultadas. Acredito que a maneira como Spolin desenvolve e sistematiza sua pesquisa seja de grande riqueza, pois ela é detalhista em toda obra. O ponto forte da sua pesquisa é a reflexão sobre o processo de criação, colocar os alunos em foco e “análise”, sem julgamentos, soma pontos positivos para o processo educativo, assim o aluno sente-se livre para poder desenvolver seu processo criativo sem ser julgado tornando-se sujeito de suas ações. O livro se oferece para quem quiser se exercitar na docência artista.
Jogos Teatrais: o fichário de Viola Spolin. Tradução Ingrid Dormien Koudela. São Paulo: Perspectiva, 2001.
O Jogo teatral no livro do diretor. São Paulo. Perspectiva. 1999.
Jogos Teatrais na sala de aula: um manual para o professor. São Paulo: Perspectiva, 2008.
“Se eu morrer novo,
Sem poder publicar livro nenhum,
Sem ver a cara que têm os meus versos em letra impressa
Peço que, se se quiserem ralar por minha causa,
Que não se ralem
Se assim aconteceu, assim está certo”. (p. 96)
“Entre o que vejo de um campo e o que vejo de outro campo
Passa um momento uma figura de homem.
Os seus passos vão com ele na mesma realidade,
Mas eu reparo para ele e para eles, e são duas coisas:
O homem vai andando com as suas ideias, falso e estrangeiro,
E os passos vão com o sistema antigo que faz pernas andar.
Olho-o de longe sem opinião nenhuma.
Que perfeito que é nele o que ele é – o seu corpo,
A sua verdadeira realidade que nem esperanças,
Mas músculos e a maneira certa e impessoal de os usar”. ( p. 96)
Referência:
PESSOA, Fernando. Poemas selecionados: Fernando Pessoa ele-mesmo e heterônimos. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 2009.
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“(...) os ninjas eram mágicos e sobre-humanos, imbuídos de poderes extraordinários, capazes de aparecer e desaparecer à vontade. Sendo assim eles fascinavam o público infantil. Mesmo quando já tinha idade suficiente para ir à escola, continuava enfeitiçado por aqueles filmes, de maneira que chegue a dizer a minha mãe que eu queria ser um ninja. Na realidade, eu queria era desaparecer de maneira mágica. Insisti tanto naquilo que, finalmente, minha mãe saiu com uma solução. Ela fez um saco de tecido preto, que me deu, dizendo: “Este é um segredo mágico dos ninjas!” Imediatamente me cobri com o saco e agachei no chão. Minha mãe exclamou: “Cadê o Yoshi? Para que lado foi?” Eu estava absolutamente extasiado com minha habilidade em tornar-me invisível e pensei: “Agora sou um ninja de verdade” Então livrei-me daquele engenho preto e de repente “reapareci”. Minha mãe boquiaberta disse: “Oh, Yoshi! Você está aqui! Como eu não te vi?!” E assim continuamos com essa brincadeira durante um tempo.” (p.16)
Referência:
OIDA, Yoshi. O Ator invisível. São Paulo: Via Lettera, 2007.
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“A casa das palavras
Na casa das palavras, sonhou Helena Villagra, chegavam os poetas. As palavras, guardadas em velhos frascos de cristal, esperavam pelos poetas e se ofereciam, loucas de vontade de ser escolhidas: elas rogavam aos poetas que as olhassem, as cheirassem, as tocassem, as provassem. Os poetas abriam os frascos, provavam palavras com o dedo e então lambiam os lábios ou fechavam a cara. Os poetas andavam em busca de palavras que não conheciam, e também buscavam palavras que conheciam e tinham perdido. Na casa das palavras havia uma mesa das cores. Em grandes travessas as cores eram oferecidas e cada poeta se servia da cor que estava precisando:
amarelo-limão ou amarelo-sol, azul do mar ou de fumaça, vermelho-lacre, vermelho-sangue, vermelho-vinho...”
Referência:
GALEANO, Eduardo. O livro dos Abraços. 9. ed. - Porto Alegre: L&PM, 2002.